Fomos
ter os dois ao ponto de encontro marcado há anos atrás. Tu chegaste primeiro, sempre
tiveste a consideração de não me fazer esperar. Decidimos tentar mais uma vez
reconciliar as nossas tão diferentes opiniões. Chegados ao local marcado, demos
o primeiro passo ao desculpar-mo-nos de antemão por qualquer eventualidade
ocorrida durante o exercício sentimental.
Sempre
esperamos demasiado, houve alturas em que projetámos um no outro os nossos
ideais e saímos dececionados. Sempre deixámos isso para trás, sempre nos
tentámos esquecer de tudo o que não funcionou, o que foi falhado, mas assim não
pudemos aprender com os erros, não acumulamos experiências um do outro, apenas
adiámos o inevitável confronto.
Com
sentimento é mais caro, tudo sai mais caro no final das contas. Se não nos
importássemos seria tudo muito mais simples, chegados a esta encruzilhada
esperada, cada um seguiria o seu caminho desejando ao outro a felicidade tão almejada.
Mas todo o conhecimento acumulado serviu pelo menos para, apesar de todos os
percalços, aumentar o sentimento. A experiência serviu para extrapolar, para
fazer analogias e melhorar em relação àqueles outros que não nós mesmos.
Antes
deste confronto muitas foram as conversas que tivemos sozinhos, conversas que
acabavam sempre da mesma maneira: na expetativa do próximo episódio e com a
consciência de que as conversas não mudariam: fomos sempre os mesmos um com o
outro. Ninguém nos pode acusar de falta de coerência ou de excesso de
preocupação, sempre levamos as coisas na desportiva (é esta pelo menos a visão
dos outros). Sempre corremos por diferentes percursos, sabem os outros qual o
objetivo que queríamos atingir? Sempre nos carregamos um ao outro até à meta.
Fazes-me falta.
Mas
ao longo do caminho fomos desvirtuando tudo o que construímos a custo: queimámos
pontes, criamos novos atalhos, arranjámos novos caminhos e destinos diferentes
que nos afastaram muito mais que as normais circunstâncias da vida. Deixamos de
andar lado a lado, os nossos objetivos já raramente se cruzam e se servem um do
outro para se concretizarem.
O
encontro há muito estava marcado, nunca tivemos dúvidas que este dia chegaria
mas não estava preparada para o motivo que o despoletou: a distância não é
fácil conciliar. Sem surpresas: nunca fomos especiais o suficiente para que a
distância em nós não fizesse a sua habitual mossa.
Deixou
de fazer sentido, desgastou, desvirtuou-se, mudou o suficiente para que o
desastre ocorresse com o nosso consentimento. Dizes-me que não queres tentar
outra vez, que não vale a pena, que no fim das contas mais tempo gasto apenas
significaria que a razão sempre esteve do teu lado. A ilusão não vale a pena;
anos depois o resultado foi, afinal, o esperado, o então vaticinado por nós
mesmos.
Não
encontramos ainda um substituto, ainda temos a mesma importância um para o
outro, deixámos foi de saber o que fazer com essa importância: já não nos é
útil, apenas nos aquece a alma de recordações e de saudade, não nos traz
perspetivas de futuro. O nosso currículo não está suficientemente completo:
talvez seja esse afinal o nosso problema…
Mas
isto não é o fim; durará o tempo todo enquanto gostares de mim.
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