domingo, 6 de abril de 2008

A CARTA


Ainda agarrada à última carta que recebi e que me fez perder
o chão e todo o rumo que tinha decidido tomar,
escapou-me por entre os dedos aquela promessa de felicidade
que brotou dos lábios mais belos que já vi.
Agarro-a bem perto do coração, abraço a esperança que já não
resta mas que sempre busquei nas palavras que me dizia;
sei agora o que ele escreveu, a sentença que o destino me
ditou não é justa para com tudo o que almejei
naquele olhar que trocamos.
Não aguento mais a pressão, um par de olhos fixos
neste envelope que carrego entre os dedos de umas mãos
vazias mas abertas para o que ainda há-de vir.
Tento não recordar a melodia da sua voz,
o sabor que confería a todos os valores
que tão ferozmente defendía,
relembro aquela palavra final escrita pelas suas mãos
ainda há pouco, sinto o cheiro da tinta a invadir-me e só
consigo pensar nas suas mãos, as que já tive
por entre as minhas num dia gélido
que o seu olhar aqueceu.
Ainda dói demasiado para ser racional, a carta está húmida
com toda a água salgada que cai de mim, olho
para o céu e tento apagar do meu espírito tudo
o que li, quero iludir-me com as lembranças que
me fazem amar-te, ainda, assim.
Ana Cristina Silva

2 comentários:

Sérgio O. Marques disse...

Está um texto intenso, relacionado com uma fatídica carta e que normalmente é a última, a derradeira. Muitas coisas podem desmoronar o mundo que construímos por vezes sobre frágis alicerces. Mas a vida segue e outras cartas virão.

Achei curioso o comentário que fizeste ao meu texto Quando por mim ela passa. De facto, apesar de parecer um texto relacionado com uma paixão, estava a pensar na vida. Boa observação de que pode ser transposto a vários campos.

Anónimo disse...

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