segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

À noite


Estranhamente à noite é pior. Sinto mais a tua falta, penso mais no que poderia ter sido mas nunca foi e no que poderá ser amanhã quando um novo sol raiar, consoante o que eu decidir hoje.
Não consigo arranjar bons conselhos, boas razões para seguir este ou aquele caminho, terei de esperar pelo momento certo para estupidamente fazer uma escolha a quente, sob pressão.
É a noite que nunca te deixa partir. Parece querer aproveitar mais uns momentos contigo antes de se despedir por agora. Ela compete comigo, trava uma batalha desigual com a vitória assegurada; não conheço as suas armas mas ela conhece a minha única forma de te fazer importar: o fingimento. Nunca a deixei vencer sem luta, nunca desisti; ela sempre saiu vencedora por mérito próprio, mas creio que chegou a noite derradeira, aquela que me fará desistir; a quem entregarei os pontos até aqui conquistados e partirei sem os despojos a que teria direito. Seria, no entanto, uma mudança tão drástica que nem mesmo a própria noite perceberia o porquê, nem eu lho saberia explicar…venceste!
Ah, noite malvada que me deixas desperta sem ter para onde fugir, que me deixas de costas voltadas para o amanhã e refugiada naquilo que são pensamentos outrora demasiado racionais. Não te devia ser permitido seguir livre cometendo todos os crimes que de boa vontade perpétuas pelas nossas consciências. Sei de um planeta onde o sol te suplanta, onde duras apenas um décimo, onde quase não és relevante; planeio mudar-me para lá mas nem isso posso fazer sem a tua permissão.
Dizem-me que ages sozinha, que não és um fantoche nas mãos do mundo, se assim for por que então te comportas como se tudo o resto fosse irrelevante perante os teus morosos trabalhos de desconstrução de um fingimento, uma negação que durou dias a criar?
Não aceitas requerimentos por escrito, nem sequer me ouves quando pela minha imaginação te peço para adiar o nosso encontro. Não te sei influenciar, segues as tuas próprias regras e não me concedes nenhuma liberdade sumária. Não sei porque ainda sinto que te devo algo, que preciso que me envolvas no teu manto de escuridão e esquecimento e me ajudes a moldar aquilo que serei amanhã durante o dia até que me venhas visitar outra vez sempre sensivelmente doze horas depois da visita anterior.

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