segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Desastre de vontades




Fomos ter os dois ao ponto de encontro marcado há anos atrás. Tu chegaste primeiro, sempre tiveste a consideração de não me fazer esperar. Decidimos tentar mais uma vez reconciliar as nossas tão diferentes opiniões. Chegados ao local marcado, demos o primeiro passo ao desculpar-mo-nos de antemão por qualquer eventualidade ocorrida durante o exercício sentimental.


Sempre esperamos demasiado, houve alturas em que projetámos um no outro os nossos ideais e saímos dececionados. Sempre deixámos isso para trás, sempre nos tentámos esquecer de tudo o que não funcionou, o que foi falhado, mas assim não pudemos aprender com os erros, não acumulamos experiências um do outro, apenas adiámos o inevitável confronto.
Com sentimento é mais caro, tudo sai mais caro no final das contas. Se não nos importássemos seria tudo muito mais simples, chegados a esta encruzilhada esperada, cada um seguiria o seu caminho desejando ao outro a felicidade tão almejada. Mas todo o conhecimento acumulado serviu pelo menos para, apesar de todos os percalços, aumentar o sentimento. A experiência serviu para extrapolar, para fazer analogias e melhorar em relação àqueles outros que não nós mesmos.
Antes deste confronto muitas foram as conversas que tivemos sozinhos, conversas que acabavam sempre da mesma maneira: na expetativa do próximo episódio e com a consciência de que as conversas não mudariam: fomos sempre os mesmos um com o outro. Ninguém nos pode acusar de falta de coerência ou de excesso de preocupação, sempre levamos as coisas na desportiva (é esta pelo menos a visão dos outros). Sempre corremos por diferentes percursos, sabem os outros qual o objetivo que queríamos atingir? Sempre nos carregamos um ao outro até à meta. Fazes-me falta.
Mas ao longo do caminho fomos desvirtuando tudo o que construímos a custo: queimámos pontes, criamos novos atalhos, arranjámos novos caminhos e destinos diferentes que nos afastaram muito mais que as normais circunstâncias da vida. Deixamos de andar lado a lado, os nossos objetivos já raramente se cruzam e se servem um do outro para se concretizarem.
O encontro há muito estava marcado, nunca tivemos dúvidas que este dia chegaria mas não estava preparada para o motivo que o despoletou: a distância não é fácil conciliar. Sem surpresas: nunca fomos especiais o suficiente para que a distância em nós não fizesse a sua habitual mossa.
Deixou de fazer sentido, desgastou, desvirtuou-se, mudou o suficiente para que o desastre ocorresse com o nosso consentimento. Dizes-me que não queres tentar outra vez, que não vale a pena, que no fim das contas mais tempo gasto apenas significaria que a razão sempre esteve do teu lado. A ilusão não vale a pena; anos depois o resultado foi, afinal, o esperado, o então vaticinado por nós mesmos.
Não encontramos ainda um substituto, ainda temos a mesma importância um para o outro, deixámos foi de saber o que fazer com essa importância: já não nos é útil, apenas nos aquece a alma de recordações e de saudade, não nos traz perspetivas de futuro. O nosso currículo não está suficientemente completo: talvez seja esse afinal o nosso problema…
Mas isto não é o fim; durará o tempo todo enquanto gostares de mim. 

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Amizade I


Quantas pessoas te amaram? Quantas amaste? Quantas desperdiçaste no amor que não tiveste? Porque não basta ser amigo, há que saber sê-lo também – prestar atenção, ter o instinto do que é conveniente e amável.

A amizade é coisa da juventude, quando se tem vitalidade que transborda livremente de nós. E é para a vida inteira. Mas a vida separa-nos e fica uma amizade remissa como um livro que temos na estante e poderemos um dia folhear.

Amizades na idade adulta têm quase sempre outros ingredientes – a politica, a literatura e assim. São as que se rompem mais depressa e dão às vezes ódios até à morte. E chegados a velhos, a amizade é um encosto, uma bengala em feitio de gente. São os amigos dos jardins, talvez dos asilos, talvez apenas de um hábito que nos ficou de não sabemos quando. Aliás, a memória de como as coisas começaram perde-se muitas vezes. Há pessoas com quem cortámos relações e que ainda estão cortadas, mas já não sabemos porque é que o corte aconteceu. A maior amizade é enfim a de duas pessoas que se sentam num café ao lado uma da outra sem já nada dizerem. E, em variante, o caso de um velho casal que se troca uma palavra de dia ou de noite, é para se injuriarem. Seria um erro pensar-se que se não amam. Amam de verdade, que o amor é muito engenhoso nas suas formas de ser. E tanto assim é que, se um dos dois do casal se passa para o outro lado, o que fica faz normalmente logo as malas e passa-se também.

Quantas pessoas te amaram e tu amaste? Pensa. Porque se o souberes, terás talvez sabido por inteiro a tua verdadeira biografia.

Vergílio Ferreira

sábado, 5 de novembro de 2011

Someone that cannot love

You locked your heart
You wake up with tears and stars in your eyes
You gave it all to someone that cannot love you back.
Your days are packed
With wishes and hopes for the love that you've got
You wasted it all to someone that cannot love you back.

Someone that cannot love, love
Ain't this enough?
You push yourself down
You try to take comfort in words, but words
They cannot love
Don't waste them like that
'cause they'll bruise you more.

You secretly made
Castles of sand that you hide in the shame.
But you cannot hold tides that break down
And you build them all over again.

You talk all this words,
You make conversations that cannot be heard.
How long until you notice that
No one is answering back?

Someone that cannot love, love
Ain't this enough?
You push yourself down
You try to take comfort in words, but words
They cannot love
Don't waste them like that
'cause they'll bruise you more

Someone that cannot love