sábado, 16 de julho de 2011

Sabes, eu também - Sebastião Antunes



Estava difícil combinar um café, mas desta vez lá foi
Talvez possamos falar do que já lá vai que as vezes ainda dói:
Da coragem esquecida que já se perdeu
quem deixou por dizer foste tu ou fui eu;
Da lembrança guardada num canto qualquer;
Da palavra apagada por não se entender
e dizer-te num gesto mais enternecido:
Sabes, eu também ando um bocado perdido.

Vou preparar-te um jantar, com certeza vou ser original.
E vou escolher-te um bom vinho. Tu sabes, nunca me saí mal.
Vou falar-te das voltas que a vida trocou;
Das verdades que o tempo já entrelaçou
Entre sonhos queimados lançados ao vento,
Entre a cor de um sorriso e o tom de um lamento.
E dizer-te de um sopro empurrado pela sorte:
Sabes, eu também ando um bocado sem norte.

Olha, não fiz sobremesa. Deixa lá, fica para a outra vez.
Vamos deixar mais um copo a falar dos quês e dos porquês.
Uma historia que nos apeteça lembrar;
Um episódio que nunca nos deu para contar;
Um segredo guardado p’lo cair do pano;
Um encontro marcado no cais do engano.
E dizer-te na hora em que a voz fraquejar:
Sabes, eu também me apetece chorar.

E vou chamar um táxi. É hora p’ra te levar a casa.
Era suposto um de nós nesta altura ficar com a alma em brasa,
Mas a vida é assim, não aconteceu.
Pouco importa dizer, foste tu ou fui eu,
O que importa é o abraço que estava por dar.
Há-de haver uma próxima e mais um jantar.
E dizer-te a sorrir já passa das três
Dorme bem, quem sabe … um dia talvez.

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