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Querido Coração:
De que preciso eu para estar bem? De boa companhia. Preciso de me sentir parte de algo, preciso de pessoas. Não nasci para viver só, não consigo. Sou perseguida mentalmente pelo que não quero e deixo-me afogar nos meus pensamentos mais dramáticos. E isso não é solução para nada.
Detesto que tenham pena de mim, mas também detesto que não se importem, que não queiram saber. Somos todos egoístas, também tu o sabes ser às vezes. Custa-te a admitir que te conheço minimamente, que posso estar certa a teu respeito e custa-me também a mim perceber em certos momentos que tens a razão que devia ser minha. Se sou exagerada? Sou. Tenho os meus defeitos, mas sei viver com eles. Tu pareces não saber enquadrar os defeitos dos teus outros homólogos nos teus, mas sei que tento! Eu devia ser mais forte. Não sei bem porquê, mas devia. Devia ser capaz de arriscar, sem temer as consequências (ou arranjar maneira de as controlar). Mas será que ainda há esperança?
Tenho vindo a descobrir que sou preguiçosa (mas a minha agenda mesmo assim não parece ser compatível com a tua) e que uma maior dose de paciência às vezes não me faria mal. Tenho a mania de recordar o que já passou, de desejar voltar atrás ou reeditar alguns momentos. Estou sempre a aprender…também contigo. A aprender a confiar, a aprender a ouvir o que não quero e o que não mereço também. Houve um tempo em que me dizias tantas coisas importantes, em que usavas da razão que me dá o nome e me davas na cabeça, em que me sentia impotente, mas sabia que importava…é difícil saber agora o que relembrar primeiro. Sou teimosa, sempre fui. É de família? Contrariamo-nos até ao fim, até alguém ceder, mas há vezes em que nunca ninguém cede e estagnamos os dois…não sou assim com tudo e todos. Há quem conheça alguns atalhos.
Tenho medo de te ver cair. Já tive mais. Porque eu sei que se caísses eu caía a seguir e não gosto que assim seja. Tenho medo de ser eu a única a cair e que lá não estejas para me levantar, medo de deitar tudo a perder. Será já demasiado tarde? Também tu me sabes tirar do sério. Não somos compatíveis? Temos de o ser, senão ficamos ainda mais perdidos sem saber qual o sentido de todo o tipo de sentimentos que existem. Exagerei outra vez… és tu quem me deixa sem capacidade de pensar noutra coisa que não o que provocas. Detestava bloquear-te, acredita!
Tem sido difícil dizer o que quero e ouvir o que quero que me digam, há quem pareça sempre agir em contrário. Mas quando falo de coisas importantes, quando peço tempo de antena, acabo sempre por divagar e me perder, não fazer sentido nenhum…e nunca tiveste medo de mo fazer ver (não é um defeito)! Podes brincar comigo, sempre tiveste essa liberdade e sabes ter piada, sabes os teus limites porque os impões para os outros, mas não para ti. Há coisas que falam mais alto e, para mim, a tua voz é grave e faz-se notar. Não é suposto seres tão parcial como de facto és. Tens os pés no chão e eu sempre com a cabeça no ar. Gosto de limites e de ter tudo sob controlo. É estranho dizer isto, não é? Logo eu que me preciso de libertar de certas amarras e sair de mim mesma.
Deixo-te a ti a frieza ou o ardor do raciocínio, outrora mais controlados, a dureza no geral com que me castigas sem intervalo. Também eu tenho direito a queixar-me e a querer que voltemos a ser o que éramos, o que apesar de não ser perfeito era melhor do que o que (não) és para mim agora. Disseram-me noutro dia que eu devia aprender a partilhar os meus pensamentos com alguém em quem confio. E eu confio em ti, sempre confiei…estás sempre presente e respondes quando te imploro. Mas para mim não basta, tens de aprender tu a ser mais activo, a estar sempre lá e a aprender a receber, a deixar que entrem no teu reino e te ajudem a ser melhor. Gosto de justiça.
Perdoa-me pela extensão do relato e pelas ambiguidades nele contidas, sei que as indeferes com a mesma intensidade.
Da tua Razão.
1 comentário:
Muito bom! :p
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